terça-feira, 25 de março de 2014

Paulo Henrique


Salvo Conduto com Paulo Henrique
Museu dos Biscaínhos

Salvo Conduto / Arte Total >> Museu dos Biscaínhos

9 de Fevereiro de 2010 às 18:28
Caro Paulo Henrique,
Quando no passado dia 7 fui ao Museu dos Biscaínhos fruir mais uma oferta cultural, relembrei uma tarde, no longínquo dia 14 de Setembro de 2002, em que percorri o palácio e os jardins assistindo ao espectáculo de dança Salvo Conduto por si coreografado, com as alunas da Arte Total.

Voltando à distante tarde que há dias recordei, gostei tanto daquele seu espectáculo, que nessa mesma noite me entreguei ao exercício de tentar descrever o que vira por escrito. A esse pequeno rabisco atrevi-me a dar-lhe o título de <B> Sonho de uma ‘tarde’ de Verão</B>.
No meu vagar de recente aposentada, lembrei-me de lho mandar. Claro que me limitei a encontrar beleza no que vi, mas se havia significados ou mensagens (a cena da cozinha, a cena final,...) tão longe não cheguei. Isso me dirá.

Com votos de excelentes perspectivas artísticas, envio os meus cumprimentos,
Helena Laranjeiro

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<B>Sonho de uma ‘tarde’ de Verão</B>


Pouco depois das quatro da tarde, os espectadores reunidos no átrio do museu, mais uma vez transformado em espaço de dança, são convidados a subir até uma das salas do primeiro piso e a ladeá-la. A música soa e o bailado emerge da sala contígua cuja porta é lentamente aberta por duas figurinhas de negro. O mesmo gesto é repetido na porta do lado oposto quando o bailado evolui para a sala seguinte, acompanhado pelo público. Aí, as bailarinas (os azuis dos vestidos ondeando), continuam a cumprir uma coreografia original que agora se desenrola entre o ligar e desligar das luzes pelas duas jovens guias e o efeito dos pontos de luz que as restantes dançarinas transportam e colocam de modo a criar sombras num écran também por elas desencantado.


O público segue de novo o grupo de baile, agora até ao piso superior dos claustros. Em baixo, à volta do lago, ao qual cada uma se ligou por uma fita verde, quatro bailarinas rodam em movimentos lentos e gestos sincopados, como a música que desce sobre elas à mistura com as primeiras gotas de chuva.


Ao mesmo tempo, em cima, as duas personagens de escuro, perdendo o ar sisudo de pajens, perseguem-se numa corrida infantil e jovial por entre a assistência, enleadas em risos e trejeitos.


Depois de uma breve passagem pela sala de jantar posta à luz das velas (a música agora mais forte e com palavras), desce-se ao jardim. Sob uma chuva já mais intensa, algumas das dançarinas perfilam-se entre o lago e a porta da velha cozinha. Um copo, passado de mão em mão, vem vazio até ao bordo do lago e volta cheio, para ser derramado numa taça colocada aos pés de duas bailarinas que em pé, sobre a mesa de pedra se enfrentam. Os tubos saindo das bocas de cada uma delas, unem-se num só descendo até à taça cujas águas borbulham ao ritmo da sua respiração. Até que as duas guias, perdendo de novo o aprumo, voltejam, travessas, retirando dos copos com os dedos salpicos de água com que espantam os espectadores para o exterior, rumo aos jardins.


Aí, os relvados, áleas e torreões são cenário para passos e movimentos que se sucedem, lembrando o bosque e a magia das fadas e duendes do Sonho de uma noite de Verão. A própria tarde, vestindo-se de um ar cinzento e nebuloso, copia o ambiente mágico e feérico que perpassa a obra de Shakespeare.


A dança termina na escadaria ao fundo da álea central, ao longo da qual o público se veio concentrando. O patamar superior das escadas é o palco da última encenação: à frente do grupo, duas bailarinas imitam com trejeitos as expressões distorcidas dos rostos reproduzidos em folhas de papel, que, pendentes à sua frente, vão sendo folheadas uma após outra.


Por fim, duas a duas, as restantes dançarinas quebram as suas posições estáticas, as expressões do rosto alterando-se a cada vénia, até que todo o azul do grupo se afasta sob calorosos aplausos.


Segue-as o negro das duas ‘graças’, que encerram o cortejo, saltitantes, lançando no ar gestos gaiatos de adeus.



Helena Laranjeiro

Braga, 14 de Setembro de 2002

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Video Mix de "Salvo Conduto" / Arte Total por Paulo Henrique










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 Salvo Conduto | Paulo Henrique |Museu dos Biscaínhos


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